Dedicado a uma aluna que precisa que "seus 25%" acredite em Deus.
Pense na pessoa mais teimosa, para quem
é quase impossível falar de Deus. Um ateu decidido. Não, não apenas ateu, mas o
mais famoso filósofo ateu de sua época. Esse era o inglês Antony Flew, o maior
filósofo ateu do século 20. Na verdade, Flew é considerado o principal filósofo
dos últimos cem anos. Seu ensaio Theology
and Falsification (Teologia e Falsificação) se tornou um clássico e a
publicação filosófica mais reimpressa do século passado. Ele passou mais de
cinquenta anos defendendo o ateísmo.
No livro Um Ateu Garante: Deus Existe, Flew conta como chegou a negar a
existência de Deus, tornando-se ateu. Na segunda parte da obra, ele analisa os
principais argumentos que o convenceram da existência do Criador. Na página 144,
seguindo o paradigma aristotélico, ele escreveu: “Minha jornada para a
descoberta do Divino tem sido, até aqui, uma peregrinação da razão. Segui o
argumento até onde ele me levou, e ele me levou a aceitar a existência de um
Ser autoexistente, imutável, imaterial, onipotente e onisciente”.
Flew diz que dois fatores em particular
foram decisivos para sua mudança do ateísmo para o teísmo. Um deles foi a
crescente empatia pelo insight de Einstein
e de outros cientistas notáveis para os quais deve haver uma inteligência por
trás da complexidade integrada do universo físico. A segunda foi o próprio insight de Flew, segundo o qual a
complexidade integrada da vida – que é muito mais complexa do que o universo
físico – somente pode ser explicada em termos de uma Fonte inteligente. Em outras
palavras/; informação tem que provir de uma fonte; vida só pode provir de vida.
Argumento
Cosmológico
Quando Antony Flew afirma que a “complexidade
integrada do universo físico” foi um dos motivos de seu abandono do ateísmo,
está na verdade, se referindo ao argumento do design inteligente, expresso pelo apóstolo Paulo em Romanos 1:20.
Para Flew e outros cientistas, é possível
chegar à conclusão de que Deus existe valendo-nos inicialmente da chamada “revelação
natural”, ou seja, o Universo criado. As digitais espalhadas na natureza
apontam para as mãos do grande Designer cósmico, cujos “atributos invisíveis”
podem ser detectados por meio “das coisas que foram criadas”. A criação do
Universo aponta para o Criador e consiste num dos mais conhecidos argumentos
para a existência dEle. Esse argumento também é chamado de cosmológico, e pode
ser expresso assim:
1.
Tudo o que teve
um começo teve uma causa.
2.
O Universo teve
um começo.
3.
Portanto, o
Universo teve uma causa.
A primeira premissa nos parece lógica e
não necessita de mais argumentação. Apela mesmo ao senso comum. Já a segunda
premissa não chega a ser unanimidade e precisa ser analisada de mais perto. Se a
conclusão for a de que o Universo teve de fato um começo, será forçoso admitir
que ele teve também uma causa.
Atualmente, a teoria para a origem do
Universo mais aceita entre os cientistas é a do Big Bang. Toda a matéria do
cosmos estaria compactada num único ponto de densidade quase infinita que
explodiu, dando origem às galáxias, estrelas e planetas. Não cabe avaliar aqui
se é correta ou não essa teoria, mas uma coisa é certa: ela levou os cientistas
a concluir que o Universo teve um início e colocou os incrédulos num beco sem
saída. Outra maneira de concluir que o Universo teve um começo deriva da
análise das leia da termodinâmica. A segunda lei da termodinâmica afirma que
cada momento que passa, a quantidade de energia utilizável no Universo está
ficando menor. Já conforme a primeira lei, a quantidade de energia no Universo
é constante e finita.
Para ilustrar, imagine um automóvel. Ele
tem uma quantidade finita de combustível (primeira lei) e está consumindo
combustível durante todo o tempo em que está em movimento (segunda lei). Esse carro
estaria funcionando agora se você tivesse ligado a ignição há um tempo
infinitamente distante? Claro que não.
E o Universo? Ele estaria sem energia
agora se estivesse funcionando desde toda eternidade passada. Mas aqui estamos
nós. As estrelas ainda brilham. A Terra ainda gira em torno do Sol. Ainda respiramos
e nos movemos. Logo, o Universo deve ter começado em algum tempo no passado
finito. Ele não pode ser eterno.
A segunda lei também é conhecida como
lei da entropia, e descreve (perdoem-nos os físicos a simplificação) a
tendência dos sistemas à desorganização. Então, de onde veio a ordem original?
(Aliás, como pode uma explosão gerar ordem?) E se ainda temos alguma ordem –
assim como temos energia utilizável –, o Universo não pode ser eterno, porque,
se fosse, teríamos alcançado a completa desordem (aumento de entropia) há muito
tempo. Por isso, o físico britânico Stephen Hawking escreveu que, “no tempo
real, o Universo tem um início”.
Aqui o naturalismo filosófico encontra
sua limitação. Note bem: não havia mundo natural ou leis naturais antes do surgimento
do Universo. Uma vez que a causa não pode vir depois de seu efeito, as forças
naturais não foram responsáveis pela origem do Universo. Portanto, deve haver
alguma coisa acima da natureza para realizar o trabalho. Isso é o que significa
a palavra sobrenatural.
A conclusão que podemos chegar é a de
que o Universo foi causado por alguma coisa externa ao tempo, ao espaço e à
matéria – portanto, uma Causa eterna; uma Causa primeira não causada. E como o
Universo apresenta lógica e funciona de acordo com leis finamente reguladas,
concluímos também que essa Causa tem que ser muito inteligente. Essa conclusão
é compatível com as religiões teístas, mas não está baseada apenas nessas religiões.
Está baseada, igualmente, na razão e nas evidências.
Argumento
Teleológico
O argumento teleológico (ou do
propósito), em forma de silogismo, fica assim:
1.
Todo projeto tem
um projetista.
2.
O Universo e a
vida foram projetados.
3.
O Universo e a
vida têm um projetista.
À semelhança do que ocorre com o argumento cosmológico, a primeira premissa do
argumento teleológico parece bastante lógica. Já a segunda premissa precisa ser
confirmada, pois, se for verdadeira, devemos concluir que o Universo e a vida
foram projetados.
Para fazer essa demonstração, podemos
começar com aquela que é considerada uma das mais “simples” formas de vida: a
ameba. Segundo Richard Dawkins, em seu livro O Relojoeiro Cego, a mensagem encontrada apenas no núcleo de uma
pequena ameba é maior do que 30 volumes combinados da Enciclopédia Britânica. E
a ameba inteira tem tanta informação em seu DNA quanto mil conjuntos completos
da mesma enciclopédia. Agora pese na “máquina” mais complexa do Universo: o
cérebro humano.
Resumindo, a informação complexa e
específica da qual dependem todas as formas de vida e que simplesmente não
poderia surgir por acaso é um dos maiores problemas para os defensores do
evolucionismo naturalista. Esse tipo de informação aponta para uma Fonte
informante inteligente.
Argumento
Moral
O próprio Kant parece apontar para o
argumento moral ao escrever “Duas coisa ocupam a mente com admiração e
reverência sempre renovadas e crescentes quanto maior é a frequência e a
regularidade com que alguém reflete sobre elas: o céu repleto de estrelas sobre
mim e a lei moral dentro de mim”.
A questão é: Como explicar essa
moralidade mais ou menos inerente a cada ser humano sem existência de um
criador dessa moral? Mesmo tribos isoladas em florestas tropicais, que nunca
tiveram contato com a mensagem cristã e sua moral elaborada, seguem códigos
morais e padrões de justiça. Quando essa noção de certo e errado foi implantada
na mente? Quando os seres humanos passaram a entender que mentir, roubar e
trair constituem violações (pecados)? O debate ainda existe...
A essa altura, é bom deixar claro que
sempre haverá espaço para a descrença, pois Deus não nos força a crer nEle. Além
do mais, as certezas humanas (tanto as dos teístas quanto as dos ateístas) costumam
se mostrar frágeis diante de certas situações da vida (como o sofrimento) e
mesmo diante de contra-argumentações convincentes. Por isso a fé racional e relacional
(confiança baseada em evidências suficientes e em comunhão com Deus) sempre
será necessária.